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“Tem cá um feitio!”- O conceito de personalidade no mundo do trabalho

Já te aconteceu ficares surpreendido, ou mesmo incomodado, com um comportamento/reação de um colega, por ter sido muito diferente do/a que terias na mesma situação?

Já desejaste ser mais parecido com alguém que conheces, numa determinada característica?

Sabes por que motivo os recrutadores fazem perguntas "estranhas” nas entrevistas?

Todas estas situações têm na sua génese o conceito de personalidade cujo estudo, desde o final do século XIX, procura explicar por que motivos, perante uma mesma situação / estímulo, diferentes pessoas têm comportamentos / respostas tão diferentes.

São várias as teorias que tentam explicar estas diferenças. Destaco as 2 mais robustas / estudadas:

  • Psicométricas -> Cada pessoa tem traços de personalidade estáveis e quantificáveis que, em interação com a situação, geram um determinado comportamento.
  • Cognitivas -> A nossa mente é um "computador” e as nossas diferenças comportamentais são o output do processamento de vários inputs:

    i) informação vinda do exterior,

    ii) memórias (boas ou más),

    iii) esquemas cognitivos.

Os esquemas cognitivos são associações mentais que fazemos automática e, muitas vezes, inconscientemente que reduzem a enorme quantidade de informação exterior a uma quantidade gerível para nós. Mas há um problema… Simplificamos em excesso e temos distorções cognitivas, como a generalização (extrapolar uma situação isolada), ou o pensamento dicotómico (tudo ou nada).

Nenhuma teoria é, em si mesma, suficiente para explicar a complexidade das nossas diferenças comportamentais, mas há aspetos fundamentais em que existe consenso científico:

· Cada pessoa tem predisposições comportamentais (predisposições e não sentenças!), que resultam da combinação da sua herança genética, educação e experiências;

· A conjugação das nossas características faz-nos ter determinados:

  • Motivadores - Aspetos que valorizamos e procuramos, muitas vezes inconscientemente, quer nas tarefas mais simples, quer nos grandes objetivos de vida;
  • Receios - Coisas que receamos, evitamos ao máximo e que, quando acontecem, nos deixam ansiosos, defensivos ou mesmo agressivos.

Sendo o contexto de trabalho aquele em que passamos em média 1/3 das nossas vidas, e sendo a diversidade de perfis tão importante para o sucesso das equipas/empresas, como lidar com tantas diferenças?

@Todos

Compreende, aceita e interessa-te pela diferença

Sabendo que é nossa tendência (humana) simplificar demasiado a informação à nossa volta, leva esta consciência para as tuas interações. Como?

  • Não generalizes acontecimentos ou comportamentos isolados;
  • Não reajas emocionalmente / por impulso. Em caso de desacordo, antes de insistir na tua visão, interessa-te por perceber o que está na origem da posição do outro: que motivadores e receios estarão na base dessa posição? Como poderei mostrar interesse pelos motivadores e ajudar nos receios?
  • Não tomes como pessoal o que não é (boa notícia: no mundo do trabalho, quase nada será!)

Todas as pessoas, mesmo aquelas de quem és próximo, veem a realidade com uma lente diferente da tua. Procurar conhecer melhor o outro é uma importante soft skill que melhora muito o trabalho em equipa.

Muda e ajuda a mudar

Nenhuma das nossas características é estática e, por vezes, gostávamos de mudar algumas para nos sentirmos melhor ou sermos melhor sucedidos no trabalho. Procura ganhar consciência das tuas características (pontos fortes e pontos que gostavas de desenvolver) e mostra-te recetivo, quer a ser influenciado, quer a influenciar outros nos pontos que, também eles, gostavam de alterar.

@Líderes

Lidera com empatia (e mais sucesso!)

O objetivo de qualquer líder é levar outros a agir em prol dos melhores resultados. Isto implica comunicar objetivos, escolher e delegar tarefas, monitorizar, dar feedback. Nenhuma destas tarefas será bem executada se não conheceres, e considerares nas tuas decisões, a personalidade de cada pessoa que trabalha contigo: o que a motiva e o que receia.

Fará sentido dar feedback semestral a quem valoriza mensal? Fará sentido escolher para uma palestra quem não gosta de se expor, não quer, e não precisa de mudar essa característica? Fará sentido dar instruções fechadas a quem valoriza liberdade de pensamento?

Sabes como identificar quando o colaborador A e B estão desmotivados?

A empatia é uma (soft) skill e, como tal, pode ser treinada. Isso dá mais trabalho do que reduzir as situações ao "feitio” do outro, mas os resultados compensam largamente! Vais experimentar?

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